Categoria: Sociologia

  • O indivíduo e a sociedade

    O indivíduo nunca teve tanta importância nas sociedades como nos dias de hoje. Quando analisamos as diversas formas de sociedade e como elas se organizaram historicamente, percebemos que só na modernidade a noção de indivíduo ganhou relevância.

    Entre os povos antigos, pouco valor se dava à pessoa única. A importância do indivíduo estava inserida no grupo a que pertencia (família, Estado, clã, etc.). Basta analisar as sociedades tribais (indígenas), as da antiguidade (grega e romana) e a medieval: apesar das diferenças naturais entre os indivíduos, não havia sequer a hipótese de pensar em alguém desvinculado de seu grupo.

    A ideia de indivíduo começou a ganhar força no século XVI, com a Reforma Protestante. Esse movimento religioso definia o homem como um ser criado à imagem e semelhança de Deus, com quem podia se relacionar sem a necessidade de intermediários – no caso, os clérigos cristãos. Isso significava que o ser humano, individualmente, passava a ter “poder”.

    Mais tarde, no século XVIII, com o desenvolvimento do capitalismo e do pensamento liberal, a ideia de indivíduo e de individualismo firmou-se definitivamente, pois se colocava a felicidade humana no centro das atenções. Não se tratava, entretanto, da felicidade como um todo, mas de sua expressão material. Importava o fato de a pessoa ser proprietária de bens, de dinheiro ou apenas de seu trabalho. No século XIX essa visão estava completamente estabelecida, e a sociedade capitalista, consolidada.

    O processo de socialização, que examinaremos com mais detalhes passa pela escola e chega aos meios de comunicação, mas inclui outros caminhos, como o convívio com a comunidade do bairro ou da igreja, com o grupo que frequenta o clube ou participa das festas populares, etc.

    Afinal, nosso dia a dia é pontuado por relações que não se restringem a um único espaço, nem apenas ao bairro ou à cidade em que nascemos e vivemos.

    A vida em sociedade é possível, portanto, porque as pessoas falam a mesma língua, são julgadas por determinadas leis comuns, usam a mesma moeda, além de ter uma história e alguns hábitos comuns, o que lhes dá um sentimento de pertencer a um determinado grupo.

    Assim, o indivíduo está de alguma maneira condicionado por decisões e escolhas que ocorrem fora de seu alcance, em outros níveis da sociedade.

    Entretanto, as decisões que a pessoa toma a conduzem a diferentes direções na vida. Seja qual for, a direção seguida sempre será resultado das decisões do indivíduo.

    As decisões de um indivíduo podem levá-lo a se destacar em certas situações históricas, construindo o que se costuma classificar como uma trajetória de vida notável. No entanto, ao considerarmos as características individuais e sociais, bem como os aspectos históricos da formação de uma pessoa, podemos afirmar que não existem determinismos históricos ou sociais que tornam alguns indivíduos mais “especiais” que outros, pois a história de uma sociedade é feita por todos os que nela vivem, uns de modo obstinado à procura de seus objetivos, outros com menos intensidade, mas todos procurando resolver as questões que se apresentam em seu cotidiano, conforme seus interesses e seu poder de influir nas situações existentes.

  • O indivíduo e as questões sociais

    Podemos chamar de questões sociais alguns problemas que vão além de nosso dia a dia como indivíduos, que não dizem respeito somente a nossa vida privada, mas estão ligadas à estrutura de uma ou de várias sociedades. É o caso do desemprego, por exemplo, que afeta milhões de pessoas em diversos grupos sociais.

    Um bom exemplo desse assunto é dado pelo sociólogo estadunidense C. Wright Mills (1915-1962), que escreveu o livro A imaginação sociológica de 1959. Mills considera que, se numa cidade de 100 mil habitantes poucos indivíduos estão sem trabalho, há um problema pessoal, que pode ser resolvido tratando as habilidades e potencialidades de cada um.

    Entretanto, se em um país com 50 milhões de trabalhadores, 5 milhões não encontram emprego, a questão passa a ser social e não pode ser resolvida como um problema individual. Nesse caso, a busca de soluções passa por uma análise mais profunda da estrutura econômica e política dessa sociedade.

    Existem também situações que afetam o cotidiano das pessoas e que são ocasionadas por acontecimentos que atingem a maioria dos países: por exemplo, a crise 1929, que levou ao colapso todo o sistema financeiro mundial; a chamada Crise do Petróleo, em 1973, provocada pela elevação súbita dos preços da principal matéria-prima do mundo; o ataque, em 11 de setembro de 2001, às Torres Gêmeas em Nova York, que alterou substancialmente a relação dos Estados Unidos com os outros países e, principalmente, o cotidiano do cidadão estadunidense.

    Podemos perceber, assim, que acontecimentos completamente independentes de nossa vontade nos atingem fortemente. No entanto, é importante destacar que, tanto em 1929 como em 1973 e em 2001, os eventos mencionados foram resultado de uma configuração social criada pelas decisões de algumas pessoas, que provocaram situações que foram muito além de suas expectativas.

    Essas situações, além de afetar as relações políticas, econômicas e financeiras de todos os países, também prejudicaram indivíduos em muitos lugares, até na satisfação de suas necessidades, como o consumo de alimentos e de combustível.

    Esses pontos, que estão presentes na biografia de cada um nós, fazem parte da história da sociedade em que vivemos e, muitas vezes, assumem forma ainda mais ampla. Tomar uma decisão é algo individual e social ao mesmo tempo, sendo impossível separar esses planos.

  • O que é Sociologia?

    Por que estudar a sociedade em que vivemos?

    Não basta vivê-la? É possível conhecê-la cientificamente? A Sociologia serve para quê? Essas são perguntas comuns entre alunos quando se deparam com essa disciplina na grade curricular — e as dúvidas não param por aí.

    A Sociologia, assim como outras ciências humanas (História, Ciência Política, Economia, Antropologia etc.), tem como objetivo compreender e explicar as permanências e transformações que ocorrem nas sociedades humanas. Ela pode, inclusive, apontar pistas sobre os rumos das mudanças sociais.

    O papel da sociedade na vida humana

    Ao longo do tempo, os seres humanos procuram suprir suas necessidades básicas não apenas por meio da produção de alimentos, abrigo e vestuário, mas também por meio da criação de normas, valores, costumes, relações de poder, arte e explicações sobre a vida e o mundo.

    Viver em sociedade significa participar dessa produção. Nesse processo, criamos a história dos indivíduos, grupos e classes sociais. Por isso, a Sociologia tem uma relação estreita com a História.

    O campo de estudo da Sociologia

    Mas afinal, qual é o campo específico da Sociologia? Para entender os elementos centrais da sociedade, os sociólogos tentam responder a questões como:

    • Por que as pessoas agem e pensam de determinada maneira?
    • Por que nos relacionamos uns com os outros de forma padronizada?
    • Por que existe desigualdade e desemprego no cotidiano?

    A Sociologia ajuda a compreender melhor essas e outras questões — sejam elas pessoais, coletivas ou relativas à sociedade em geral.

    A crítica sociológica

    Para Pierre Bourdieu, sociólogo francês contemporâneo, a Sociologia crítica pode ser incômoda, pois revela aspectos da sociedade que certos grupos preferem manter ocultos. Isso ocorre porque o esclarecimento sociológico pode perturbar interesses estabelecidos.

    Imaginação Sociológica

    A Sociologia também desenvolve o que chamamos de imaginação sociológica: a capacidade de relacionar nossas experiências individuais com estruturas sociais mais amplas, entendendo como elas nos influenciam.

    A produção social do conhecimento

    Todo conhecimento é socialmente construído. Para entender como pensavam pessoas de uma época, é necessário conhecer o meio social em que viviam. O pensamento é moldado por grupos e classes em reação às situações históricas.

    Alguns grupos desejam manter o status quo e produzem explicações que justificam a sociedade como ela é. Outros buscam mudança, propondo novas interpretações e formas de organização mais igualitárias.

    A Sociologia surge como uma forma de conhecimento desenvolvida a partir das condições sociais, econômicas e políticas de seu tempo. Ela nasceu da necessidade de compreender as transformações no mundo ocidental entre o final do século XVIII e o início do XIX — período marcado pelo surgimento da sociedade capitalista.

    Origens da Sociologia

    Ao tentar entender essas transformações, muitos pensadores elaboraram teorias sobre a sociedade anterior e a nova sociedade em formação. Assim se formaram as bases da Sociologia como ciência.

    Na França

    • Frédéric Le Play (1806–1882)
    • René Worms (1869–1926)
    • Gabriel Tarde (1843–1904)
    • Émile Durkheim (1858–1917): o mais importante, responsável por definir o caráter científico da Sociologia e inaugurar uma corrente dominante na França.

    Na Alemanha

    • George Simmel (1858–1918)
    • Ferdinand Tönnies (1855–1936)
    • Werner Sombart (1863–1941)
    • Alfred Weber (1868–1958)
    • Max Weber (1864–1920): o mais influente entre eles.

    Nos Estados Unidos

    • Robert E. Park (1864–1944)
    • George H. Mead (1863–1932)

    A Sociologia nos EUA se desenvolveu principalmente nas universidades de Chicago, Columbia e Harvard.

    A Sociologia no século XX e no Brasil

    No século XX, a Sociologia se tornou uma disciplina mundialmente reconhecida. Os sociólogos atuam em universidades, nos meios de comunicação e em instituições públicas e privadas.

    No Brasil, a Sociologia ganhou visibilidade com a expansão de cursos superiores e institutos de pesquisa social, além da presença de sociólogos em diversas esferas da sociedade.