Anaximandro
Anaximandro de Mileto: O Filósofo do Ápeiron
Anaximandro foi um importante filósofo pré-socrático, discípulo de Tales de Mileto e seu sucessor na liderança da Escola Jônica. Nascido por volta de 610 a.C. na cidade de Mileto, na Ásia Menor (atual Turquia), Anaximandro é reconhecido como o primeiro filósofo a escrever um tratado em prosa sobre a natureza, denominado “Sobre a Natureza” (Peri Physeos), do qual restam apenas fragmentos. Suas contribuições influenciaram não apenas a filosofia, mas também áreas como astronomia, geografia, biologia e cosmologia.
O Ápeiron como princípio fundamental
A principal contribuição filosófica de Anaximandro foi sua concepção do ápeiron como princípio (ou arché) de todas as coisas. Diferente de Tales, que acreditava que a água era a substância primordial do universo, Anaximandro propôs que o mundo não poderia ter surgido de algo conhecido ou limitado, como a água ou qualquer outro elemento. Para ele, o ápeiron — termo grego que significa “o indefinido”, “o ilimitado” ou “o infinito” — era eterno, imortal e indestrutível, e de sua ação contínua surgiam todas as coisas.
O ápeiron é um princípio imperecível que não possui forma definida, e é dele que se originam os contrários (quente/frio, seco/úmido, etc.). Esse conceito é inovador porque marca o início da abstração filosófica e científica no pensamento ocidental: o princípio de tudo não é algo físico e observável, mas uma realidade indeterminada e eterna que rege a transformação do universo.
Cosmologia e a origem do cosmos
Anaximandro também desenvolveu uma cosmologia complexa. Ele acreditava que a Terra era um cilindro flutuando no espaço, sustentado pelo equilíbrio e não apoiado em nada — uma ideia revolucionária para a época. Para ele, os astros estavam localizados em anéis concêntricos ao redor da Terra, com o Sol sendo o mais distante. Esses anéis tinham orifícios pelos quais víamos a luz, e os eclipses aconteciam quando esses orifícios se fechavam.
Essas ideias, embora rudimentares, demonstram uma tentativa ousada de compreender a estrutura do universo por meio da razão, sem recorrer à mitologia. Anaximandro foi um dos primeiros a propor que os corpos celestes realizavam movimentos circulares regulares, antecipando concepções que só seriam refinadas séculos mais tarde.
Geografia e astronomia
Além de filósofo, Anaximandro também é lembrado por suas contribuições à geografia e à astronomia. Ele é considerado o primeiro grego a desenhar um mapa do mundo conhecido de sua época. Esse mapa foi fundamental para o desenvolvimento da cartografia e permitiu um maior entendimento sobre a distribuição dos povos e das terras.
Na astronomia, ele criou um relógio solar (gnômon) para medir o tempo e as estações, e estudou os solstícios e equinócios. Sua curiosidade científica revela uma mente profundamente voltada à observação e ao estudo dos fenômenos naturais.
Concepções sobre a vida
Outro ponto notável do pensamento de Anaximandro foi sua tentativa de explicar a origem da vida de forma natural. Ele sugeriu que os primeiros seres vivos surgiram da umidade aquecida pelo Sol e que, em seguida, evoluíram para formas mais complexas. Ele acreditava que os seres humanos teriam se desenvolvido a partir de peixes ou animais aquáticos — uma visão impressionantemente próxima das ideias evolutivas, séculos antes de Darwin.
Legado filosófico
Anaximandro é considerado um dos grandes pioneiros do pensamento filosófico e científico. Sua introdução do ápeiron abriu caminho para reflexões mais abstratas sobre a origem do universo e influenciou diretamente outros pensadores, como Anaxímenes e Heráclito. Aristóteles e Teofrasto o citam com admiração, e sua ousadia em ir além dos elementos físicos conhecidos marcou o início da metafísica na tradição ocidental.
Seu pensamento representa uma transição importante: da busca por explicações empíricas para a valorização do raciocínio lógico e da construção de modelos para entender o cosmos. Anaximandro é, portanto, uma figura central na história da filosofia, cuja ousadia intelectual ecoa até os dias de hoje.